12.9.09

O que sobrou do corpo



The Final Inch é um documentário sobre os esforços mais recentes de ONGs e seus voluntários no combate a poliomelite em diversas partes do mundo.

(Tão incomum quanto o tema, é o perfil de quem apoia o lançamento, que rola semana que vem nos EUA: Google, Karmaloop e Antenna Mag. Os dois últimos, um e-shop fashionzinho e uma revista de cultura urbana e tendências).

Mais interessante ainda é que esse documentário não é o primeiro a abordar uma doença e o que implica sua causa. Em janeiro, o XDR-TB veio ao mundo através das lentes de alguns fotógrafos para mostrar o surto silencioso e esquecido de tuberculose. Uma doença que, a princípio, está controlada e não incomoda ninguém.



Os argumentos desses filmes chamam mais atenção do que os patrocinadores e as próprias doenças. O da polio, por exemplo: a vacina contra a polio foi criada há 50 anos, mas ainda hoje existem pessoas que não tem acesso ao antídoto e muitos governos argumentam que as campanhas de vacinação são impedidas por "conflitos locais", como guerras civis e confrontos entre etnias, o que não passa de uma grande mentira e uma desculpa absurda para fazer nada.

Vejo que o boom científico dos anos 70, 80 e 90, que trouxe a descoberta de doenças e a cura para tantas outras, agora, não faz mais sentido se o acesso é limitado. Com os custos de produção mais baixos e a qualificação das redes de distribuição, não tem sentido a inexistência de uma empresa com o espírito "free" na indústria farmacêutica para contornar esse cenário. Talvez seja essa a mensagem. Talvez seja esse o propósito a ser levado adiante. (Mesmo que enfrentar a proteção de patentes seja uma guerra quase impossível de ser vencida e o tenham perseverado com os medicamentos para tratamento da Aids).

Nos últimos 10 anos criaram a ilusão de que o acesso à informação transformaria a realidade de muitas comunidades. A última campanha do Criança Esperança abordou o assunto com muita força e as últimas edições do Globo Repórter sobre Amazônia desconhecida desvelaram que a ocorrência de PCs na floresta tropical é tão grande quanto a de araras, onças e sucuris. O barulho em cima dos princípios de aldeia global que a internet fez ressuscitar sufocou o invisível.

Os reports decretam a morte do corpo. Mas enquanto que os gadgets transformam cabeça, tronco e membros em paisagem, a gripe suína, a polio, a tuberculose, a febre amarela e a dengue (só para dar exemplos mais próximos) mostram que ele está bem vivo.

Há espanto quando crianças chegam de volta das férias e não beijam o rosto uma da outra por causa do invisível.

A invisibilidade é uma desculpa para fazer nada.

Talvez seja essa a reflexão que deva ser desencadeada, bem antes de qualquer propósito ser levado adiante.

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