4.12.09

Os Novos Psicóticos? - Parte 3

Por mais que se tente, ninguém sente (ou talvez jamais sentirá) a dor do outro. E isso vale, principalmente, para a dor com raízes na mente humana, como é o caso da depressão e da ansiedade – dois distúrbios responsáveis pela metade (740 milhões de pessoas) das doenças mentais estimadas no mundo. Esses males causam um sofrimento terrível. Geram angústia e desespero, suas origens não são muito claras e as sensações que provocam – por mais que produzam sintomas identificáveis por um especialista – beiram o intraduzível. A dor causada pela depressão e pela ansiedade é diferente de uma dor de cabeça ou de uma dor decorrente, por exemplo, de um tombo: ela dói, metaforicamente, lá no fundo da alma. E o pior é que essa dor, de acordo com especialistas e com a Organização Mundial de Saúde (OMS), só tende a aumentar. No próximo milênio a mente vai estar mais doente do que nunca. “As doen-ças mentais tendem a proliferar como resultado de múltiplos e complexos fatores sociais, biológicos e psicológicos. Elas são respostas já esperadas de doenças físicas graves e da guerra e do trauma. Mas também de condições sociais adversas, como as altas taxas de desemprego, a educação precária e a pobreza”, afirmou a OMS num relatório publicado este ano. E mais: “Nas próximas décadas tudo indica que as doenças decorrentes de distúrbios mentais e de problemas neurológicos serão ainda maiores.”

(...)

Além de trazer um sofrimento emocional maior é certo que o aumento da depressão e da ansiedade também vai elevar os seus custos sociais. Cinco das dez principais causas de incapacitação profissional no mundo são problemas mentais. Entre eles, a depressão, o transtorno bipolar e o transtorno obsessivo-compulsivo. Só nos Estados Unidos os gastos (incluindo os indiretos) com a depressão chegam a US$ 80 bilhões por ano. Em 2020, a OMS prevê que ela será a segunda doença que mais roubará anos de vida útil da população (a primeira continuará sendo problemas cardiovasculares). Fora isso, a chance de um deprimido cometer suicídio é 35 vezes maior do que a de uma pessoa saudável. Em relação à ansiedade, um estudo feito nos EUA, publicado a partir de 1984, constatou que 68% das mulheres e 60% dos homens que tinham transtorno do pânico estavam desempregados na época e que pessoas com este distúrbio procuram atendimento médico sete vezes mais do que a população comum.


Fonte: Revista Isto É - Nº 1571 – 10 de novembro de 1999

(A partir do twitt do André)

4 comentários:

  1. É alarmante ler que depressão será a segundo doença com mais mortes já em 2020... Até lá espero que mais e mais informações sejam disponibilizadas para que esses contingente de pacientes sofram menos. Esse já é meu pedido para "Papai Noel". Abs e parabéns.

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  2. Olá Will. Valeu pela visita, e seja bem-vindo. Quanto a questão da depressão, temos que ver outras doenças correlacionadas também, como por exemplo, síndrome do pânico e TOC. É triste inclusive percebermos que a vida que nos foi imposta contribui pra isso: falta de tempo, falta de lazer, falta de espaço. A falta, simplesmente. Legal é vermos iniciativas como teu blog :-) Abração.

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  3. wow! não tinha lido essa série de posts....genio!

    concordo que seria muito simplista atribuir tudo isso apenas ao capitalismo, já que o conjutno de fatores é muito maior e mais complexo. E toda vez que penso sobre o tema só consigo ter uma visão apocalíptica:

    1 - numero de afetados por doenças psiquiátricas é cada vez maior.

    2 - estamos semfoco e concentração. Muito bonitinho todo mundo ser multitasking e blablabla, mas o que realmente está acontecendo é que ninguém mais consegue se focar em nada. Outro dia tava lendo sobe como temos apenas 11 minutos de concentração diária, já que vivemos na histeria por checar emails e falar no msn ao mesmo tempo. Fora que todos os meus amigos acham que tem DDA (me included) O_o

    3 - Tudo isso é potencializado com o brilhante fato de que agora todo mundo mora na cidade, essa estrutura q concentra e potencializa tais problemas. E claro que isso não faz bem para nossa cabecinha...rs http://www.boston.com/bostonglobe/ideas/articles/2009/01/04/how_the_city_hurts_your_brain/

    Não, não proponho suicidio coletivo, mas tá tudo MUITO louco. E mais chocante que o cenário, é a fleuma com a qual caminhamos para o caos.

    medo, muito medo.

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  4. Dé, meu medo é que isso seja irreversível. Essa coisa "mercurial" uma hora enche o saco. Hoje eu entendo a busca dionisiaca de algumas pessoas. Ninguem aguenta.

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