25.11.09

Xamanismo e Antropomorfismo

Imagine a cena: um sujeito entra no lugar onde você se encontra, vestido com um terno. Agora imagine que, sobre esse terno, existe a pele de um alce, cuja cabeça coroa esse sujeito, e o cobre até os pés, num arremedo bizarro de lobo em pele de cordeiro. Para completar, ele costuma carregar uma ou duas lebres empalhadas. Às vezes, sem a pele de alce, ele coloca uma dessas lebres na cabeça. Esse é o mundo de Marcus Coates, artista contemporâneo que também se intitula um xamã.


A esfera onde Coates atua é a arte pública, interagindo pessoal e diretamente com o público e construindo seus conceitos artísticos com eles. Antes de ser xamã e artista, ele é também ornitólogo e naturalista, o que o credencia a falar sobre e por meio da natureza.


Ele afirma ter contato com o "lower world" para responder a perguntas específicas como todo bom xamã. Historicamente o xamanismo se propõe a resolver os problemas e dilemas de uma comunidade. Sendo essas figuras de autoridade espiritual, eles se conectam com a natureza para obter as respostas necessárias. Marcus Coates vale-se do antropomorfismo para voltar à natureza, e vai a cidades mundo afora conversando com as pessoas para ajuda-las na solução de seus problemas.


Ele também dá workshops onde coloca as pessoas no lugar dos animais. Isso pode incluir, por exemplo, colocar alguém em cima de uma montanha, e fazê-la imaginar ser uma águia - com sons, bater de asas e tudo o mais - que busca sua presa. Ele sabe que tudo o que faz provoca o riso, mas esse é o maior truque dele. Apesar do ceticismo das pessoas, que podem acha-lo até ingênuo e ridículo, a arte de Marcus Coates cumpre sua função: ele nada mais faz que tirar as pessoas do conhecido, do cotidiano e do convencional, e assim as ajuda a se verem de outra forma, por meio de uma experiência objetiva, porém única.



Afinal, humanos nada mais são que criaturas que tentam negar sua animalidade, submetendo a natureza à sua prepotência.

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