2.5.09

Esse post começou a ser redigido no aeroporto de Guarulhos, exatamente à 01h11min do dia 1 de maio. Um dia, quem sabe, histórico para o país. Afinal, ninguém tem coragem de apostar as suas fichas no impossível desembarque de um passageiro com um monte de vírus H1N1 nas suas mucosas bucal e nasal. Até então, depois de quase uma hora no aeroporto, vi apenas uma passageira e três funcionários do aeroporto utilizando máscaras. Por conseqüência, recebi também um telefonema da minha digníssima explicando que assistiu o Jornal da Globo e achou conveniente sugerir que eu usasse uma máscara. A mídia está cumprindo o seu papel com êxito. Se a intensão é instaurar o caos, está no caminho certo. Pelo menos assim, por enquanto, os piratas somalis ficam distantes da mídia. Mas apenas da brasileira.


Quando chego no aeroporto, a primeira coisa que faço é ir até a banca de revistas. Hoje, tive a sorte de me deparar com o último exemplar da Monocle (May/09) que existia na prateleira. Um dos destaques da revista são os esquecidos somalis. Os caras que assustaram todo o mundo. Não por brutalidade, mas pelo primitivismo da prática. Por óbvio: um mundo acostumado com megaoperações motivadas pela pedofilia online em que ações integradas enchem de orgulho qualquer secretário de segurança e delegado, jamais contaria com a necessidade de voltar as forças dos seus exércitos e polícias para enfrentar os destemidos terroristas africanos armados de barcos espelunquentos e fuzis enferrujados. E por conta disso, a Monocle construiu a sua reportagem em cima do aparato montado pela UE para conter os ataques. Quer dizer: mostrou o lado impotente.


Liberar as embarcações não sai abaixo de milhões. Como bem sabemos (nós, da CUBOCC), um navio parado representa alguns milhares de dólares perdidos por hora e surte um efeito no mercado de distribuição global como o de um parafuso solto na engrenagem de uma esteira de produção de qualquer megaindústria.

Então que depois de processar essas duas informações e resgatar fatos do dia que pudessem construir algum raciocínio a partir do que passou pela cabeça desde que cheguei no aeroporto, lembrei de uma reportagem do G1, onde o acadêmico norte-americano Jerome Corsi explica as entrelinhas do seu livro Obama Nation e justifica a sua tese: nas mãos do Barack, o EUA caminha para o socialismo. Misturando as três coisas, cheguei a conclusão de que não vivemos o caos e muito menos uma crise financeira ou sanitária. São todas, obviamente, noções de descontrole que criamos para especular a possibilidade de que, antes, estávamos no controle. Bullshit.


Nunca a precariedade logística, sanitária, econômica e ideológica do mundo estiveram tão evidentes quanto agora. O espanto de Jerome diante da postura de Obama, que é a de estatizar a economia, representa melhor esse cenário. Pois, nem o campo teórico, que sempre deu conta dos confrontos ideológicos e da complexidade social do mundo amparado por Barthes, Bordieu e Mafesoli, consegue fugir dos estereótipos do século passado para pensar no novo.

Não podemos nem contar como novo. Mas apenas um reload em algumas coisas desgatadas. E socialismo... Não, creio que não.

Tamanha é a insegurança que chegamos ao ponto de o general Chávez convidar o excelentíssimo professor de direito da Universidade de Chicago a fazer frente pelo socialismo mundo afora. Isso parece aquele momento em que a família descobre que a menina de 15 anos engravida do namorado e, pela fragilidade da situação e da moça, confere a si o alvará de antropóloga do baixo clero e passa adiante dicas extraídas de interpretações equivocadas de casos de vizinhos, amigos e colegas de serviço. O Chávez é a tia gorda que insiste para a menina dormir na casa dela até que a poeira abaixe. Todos querem opinar na vida do Obama. Mesmo ninguém sabendo o que a menina parirá depois e quem é de fato o pai da criança.

E como a gripe suína é só um vírus e não é de ninguém, resta ter medo mesmo e instituir o estado de terror. Que não tem nada a ver com o de direito, mas que se serve dele como base para a construção do terror. Nesses casos de "inimigo invisível", lembro bastante das histórias inventadas sobre a invasão dos et's em algum planeta com formato e com pessoas parecidas com a terra que já se viu muito no cinema (desculpe, mas eu não vi). Eles são silenciosos e assustadores. Mas no final todo mundo descobre que, na real, eles só são verdes e, eureka, ignorantes somos nós de acreditar que eles tem a mesma vontade de dominar tudo (dominar no sentido de conquistar e de controlar coisas e seres).

Encerro o texto aqui reivindicando o meu direito de ser aleatório.

2 comentários:

  1. Cara, vc radiografou a sensação que tive dias atrás... Um monte de coisas aparentemente aleatórias mas que, no fundo, são fruto de nosso descompromisso com o futuro, com o porvir.

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  2. "O futuro não é mais como era antigamente..."

    Estou achando que isso tudo é só uma amostra grátis do que vem por aí. Não demora muito e teremos coisas realmente complicadas para enfrentar, enquanto a hipocrisia política faz pose de hype.

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