1.3.09

Tipo assim

A foto é só para discontrair um pouco.

Estava agora (4h22min, domingo, 1/3) remexendo o meu Google Docs e entrego o texto que segue abaixo. Escrevi ele em 18/9/2008. Vai:


"Juro que tentei discorrer algumas linhas sobre o que aconteceu há uma semana. Dia 12 de setembro fui parar na mesa de cirurgia para resolver uma richa entre eu e uma apendicite aguda. Não vou entrar detalhes. Da cirurgia. Mas dos resultados.

Fiquei viajando na cicatriz. Um pedaço da minha barriga impede a realização de diversas tarefas cotidianas e necessárias. Sem problemas. O corpo precisa. O vivente aceita. Mas a cicatriz não sai da minha cabeça. E da minha barriga. Percebo que quando olho para ela o interesse é mútuo e recíproco. Lembro de quando olho para um periquito, um cachorro ou uma iguana e penso que ele também está pensando que achamos a vida uma coisa terrível e que legal mesmo é viver no meio da fauna e da flora. Acredito que no outro reside o mesmo interesse em perceber a vida sob uma outra perspectiva. O que me torna tão ignorante quanto aquele ser que não percebeu e não pensou em nada disso. Pelo menos em relação a mim mesmo. A impotência é a ignorância elevada ao quadrado. E sem raiz quadrada.

Voltando.

A cicatriz tem um pouco de concreto e um pouco de fantasia na vida. Até comparo com a circunstância do último post. É algo que roubamos, temos só para nós, é algo que apenas o dono pode passar adiante a história dela com a mesma riqueza de detalhes da circunstância propriamente vivida. Mas o preço é alto. É, sem dúvida, o souvenir mais doloroso que vou levar aqui de São Paulo no dia em que eu for criar galinha e porquinho em Cambará do Sul.

Mas onde eu quero chegar, afinal.

Do pouco da fantasia e do pouco de concreto, não resta muita coisa. Muito mais da fantasia do que do concreto. De concreto, tenho apenas uma marca. De resto, apenas a ilusão de que a dor não foi tão grande, a circunstância não foi tão dolorosa e que, de tudo isso, a única coisa que restou foi uma história para contar.

Definitivamente, não vale a pena eu descrever como tudo aconteceu. Falar de procedimentos, exames e outras coisas é como descrever a rotina de uma linha de produção.

O que rende mesmo é você pertencer a esta linha de produção e, no caso, ser a manufatura. Você entra um pouco quebrado, com certas avarias, mas nada que uma deformidade física na cutis faça você pensar em tudo isso e escrever uma outra história."

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